Hoje trazemos mais um episódio da série Cozinha Aberta. No final ano passado, contamos histórias de imigrantes que tiveram suas vidas transformadas pela gastronomia (que você pode conferir os episódios aqui, aqui e aqui) e, neste mês, inauguramos a 2a fase da série, agora falando de mulheres: 3 chefs que encontraram no ofício da gastronomia uma forma de expressarem sua essência e o seu feminino.
Nos dois últimos episódios falamos sobre duas grandes chefs mulheres, a Cafira Foz e Viviane Gonçalves e hoje trazemos a história da Manuelle Ferraz, dona do restaurante “A Baianeira“, uma das principais atrações gastronômicas da Barra Funda, em São Paulo. Nascida em Almenara, cidade do Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais) localizada quase na divisa com a Bahia, a chef entitula a sua comida “baianeira” (neologismo inventado por ela para definir a junção das comidas baiana e mineira).
Originalmente (e até pouco tempo atrás) chamado de “Quem Quer Pão 75”, o local era apenas um balcão pequeno e vendia o tradicional pão de queijo, feito com povilho de sua terra natal. Hoje, na mesma rua tranquila e com o novo nome, o restaurante está mais amplo, ocupando dois andares e abrigando até 25 pessoas no café da manhã e no almoço.
Criada pela avó e nascida em uma família só de mulheres, Manuelle traz na memória as sensações das manhãs de sábado regadas a cheiro de bolo, biscoito e rosca, lembranças que a tornaram, mais tarde, uma chef de mão cheia.
Formada pelo Senac, ela também trabalhou em um restaurante da alta gastronomia de Nova York (do Grupo Serafina), e no D.O.M, de Alex Atala. Nesses lugares, muitas vezes Manuelle se deparou com cozinhas essencialmente masculinas, mas foram as poucas mulheres com quem cruzou na profissão, em quem se inspirou. “Lá dentro da Cozinha do Dom, a Maria foi super importante, ela era a grande cozinheira do Alex. Ela era muito o meu espelho. Queria fazer tudo como ela fazia, com aquela mesma força que ela tem”, comenta.
Não por acaso, e até como uma homenagem àquelas que a inspiraram, hoje a chef trabalha apenas com mulheres. Tudo começou com a contratação da Solange, que era diarista e se tornou uma grande cozinheira e seu braço direito e, em seguida, outras mulheres foram chegando, ficando e se construindo na profissão. Hoje o empoderamento que Manuelle promove vai muito além do discurso e se aplica naturalmente ao dia a dia da equipe 100% feminina. “Eu fui entendendo que eu não estava só construindo só uma cozinha, eu estava construindo também pessoas…E é aí que entra os aspecto do empoderamento, porque hoje muitas delas ganham a mesma coisa ou mais que o marido, então inverteu esse papel”, conclui ela.
Assim como a chef, o menu traz uma comida cheia de alma, raiz e simplicidade. No almoço, é possível pedir desde picadinho, estrogonofe, galinh ada caipira a peixe ao molho de moqueca e, no café da manhã, além do famoso pão de queijo, pode-se optar por bolos caseiros, café coado, pão na chapa com requeijão de corte e banana da terra frita com mel e amêndoas.
Sobre a série Cozinha Aberta:
Idealizada pela Casa Volver, em parceria com o Infame e o Conexão Cultural, esta série não é sobre chefs e restaurantes renomados, ou receitas e tendências culinárias. Fomos além disso. Como uma espécie de microcosmo do mundo em que vivemos, o objetivo aqui é entender e refletir um pouco sobre a nossa relação com as pessoas ao nosso redor. Seguimos falando sobre comportamentos, preconceitos, sentimentos, transformações, processos, cultura, hábitos, lembranças e complexidades que dizem muito sobre nós, seres humanos.