Infame

“Não penso o que quero que as pessoas sintam. Se elas sentirem algo, acho que já consegui alguma coisa”.

Conversamos com o fotógrafo Hudson Rodrigues. E ele não está muito preocupado em se autodefinir. Ainda bem.

Por Hudson Rodrigues |  01 de outubro de 2018

“Não muito diferente de outros garotos de onde eu vim. A gente começa em coisas básicas, para ajudar a família em casa e ter uma noção de valor das coisas da vida”. Com essas palavras, o fotógrafo Hudson Rodrigues descreve seus primeiros passos profissionais.

“Meu primeiro trampo foi em uma fábrica de resistência de chuveiro, era um trabalho sofrido e chato, as mãos ficavam cortadas pelo fio de aço que fazia as molas da resistência. Fora que trabalhava o dia inteiro em pé. Não aguentei por muito tempo e o certo era ninguém aguentar por muito tempo. Aquilo não era bom pra ninguém.

Depois fui office boy, um trabalho que eu amei: cara, eu adorava aquilo! Andar pelas ruas da cidade, conhecer as coisas, ver a vida acontecendo… O tempo passa muito rápido, eu tinha uns 16 nessa época.

Em seguida trabalhei em um café. Atendia o balcão, entregava os pedidos. Não curti muito não. As pessoas têm que tratar melhor as pessoas que as servem… Aí virei assistente de almoxarifado, auxiliar financeiro… Nessa época eu já não aguentava mais me procurar. Era um monte de trampo necessário e chato!”.

Mas quando e como passou a se interessar por fotografia?

“Meu bairro, meus amigos, tudo que me rodeava. Eu achava que minha vida na época poderia dar boas fotos. Na verdade, acho que não tinha nada de especial e diferente, mas eu gostava daquilo. Nunca tive cachorro e não sei tocar nenhum instrumento. Também não jogo bola. Aí eu fiquei com a foto!”.

Perguntado sobre suas influências, Hudson surpreende de demonstra a interdisciplinaridade da arte, a forma como muitas vezes linguagens diferentes podem influenciar umas às outras:

“As influências que tenho vieram antes de começar a fotografar, então são muitas. A fotografia é apenas uma pequena parcela de tudo isso. A música é algo muito forte pra mim. Posso dizer algumas coisas que me influenciam muito são minha família, Michael Jackson, Nan Goldin, Chet Baker, Mario Cravo Neto, o samba e a rua!”.

“A vida e seu palco de acontecimentos é o que mais me inspira. Conhecer várias possibilidades e formas de se viver que eu nunca imaginaria se não fosse pela fotografia. Eu gosto de fotografar coisas que tenham interação com o ambiente, nunca gostei muito de dirigir as cenas, mas percebo que isso está mudando em mim também. Tenho curtido muito dirigir pessoas e ando aprendendo um pouco sobre como fazê-lo! Não penso o que quero que as pessoas sintam, se elas sentirem algo, acho que já consegui alguma coisa!

Você acha que tem alguma marca, um estilo próprio?

“Eu comecei a fotografar nas ruas. Com o tempo fui conhecendo outros estilos e me apropriando de algumas dessas estéticas dentro da minha fotografia. Quando me pedem pra falar do meu estilo me sinto preso, é estranho isso… não sei se tenho um estilo… Acho que sim, mas não quero ver e nem me importar com isso agora. Ter um estilo te tira de outros estilos – quero experimentar. A fotografia me faz sentir vivo, em um eterno questionamento… Uma autoafirmação da minha existência breve, linda e louca!”.

Hudson Rodrigues

Hudson Rodrigues

Hudson Rodrigues é fotógrafo em São Paulo. Gosta de dizer que levo a câmera para passear comigo quando sai para dar umas voltas. Faz parte do SelvaSP, um coletivo de foto de rua, uma grande família na qual cada um tem um estilo de ver e vivencia a rua de maneira bem diferente. Confira aqui a sua conta no Instagram.