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O Futebol Vive nas Ruas: Retratos da Periferia Durante a Copa

Por DiCampana Foto Coletivo |  28 de julho de 2018

Conversamos com o pessoal do coletivo fotográfico DiCampana sobre seu ensaio produzido em diversas regiões da periferia de São Paulo durante os jogos do Brasil na Copa do Mundo da Rússia. Confira abaixo parte desse bate-papo e algumas das fotos do projeto.

  1. Ainda existe futebol? Ou ele já virou apenas mais um negócio?

Sim, existe futebol. E ele também é “apenas” mais um negócio.

O futebol está aí, gostemos ou não. É um dos poucos esportes que temos contato logo no início da vida. Dificilmente uma criança no Brasil, ou em outros países, não teve contato com uma bola durante a infância. O futebol, antes do mercado, antes do negócio, é um esporte, é entretenimento, e sua existência independe de mercado.

Ser um negócio, de certa forma, é – em diferentes escalas. Hoje, diversos jogadores de várzea, pelo menos em São Paulo, geram renda a partir de campeonatos grandes, disputados por dezenas de times. Isso alimenta um mercado, pois precisam de uniformes, meião, chuteira; bola, rede, grama sintética; água, cerveja, comida etc. Isso na proporção de um estádio é maior. Como a Copa, muito mais.

  1. Vocês acham que, para quem gosta de futebol e também é politizado, está mais difícil acompanhar essa modalidade esportiva?  

É difícil afirmar isso, pois é muito subjetivo para cada indivíduo. Uma pessoa pode gostar de futebol, amar o clube que torce, ser politizado, e não concordar com as falcatruas que envolvem a Fifa. Há quem adore futebol e, no entanto, não consegue mais acompanhar o cotidiano do esporte, por saber da corrupção que envolve a cartolagem.

Uma coisa não elimina a outra: o politizado pode adorar futebol, isso não faz dele um alienado.

  1. Quais sensações a Copa do Mundo traz que dialogam tão bem com o nosso povo?

Após a eliminação do Brasil, muitas pessoas lamentavam que teriam que trabalhar na terça-feira, pós-feriado. Queriam a vitória do time, mas caso contrário, estava tudo certo também.  As pessoas não têm mais aquela emoção de torcedor fanático pela seleção. Sim, essas pessoas existem. Mas, no geral, o que notamos é que a seleção não envolve e comove como antes. Talvez a sensação para geral seja de “tanto faz”.

  1. Como foi a experiência de cobrir e documentar a vivência dos jogos pelas pessoas? Em que medida o ambiente periférico impacta essa vivência?

Como registro documental e atemporal, fotografar o ambiente periférico para o coletivo, foi mais um momento de estar próximo ao nosso povo, do nosso pessoal.

De imediato, é notável que as crianças se empolgam com o esporte, sentem-se estimuladas e correm para os campos e quadras das quebradas.

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O futebol é paixão nacional. Gostando dele ou não, é impossível discordar dessa afirmação. Está presente no dia a dia do brasileiro, move multidões, desperta amor e ódio. E nas periferias ele pulsa, vive nas camisetas, nas televisões dos bares, nas ruas com traves feitas de chinelos enquanto o pé descalço dribla e faz o gol, nos tantos campos da várzea, nas rodas de conversa e nos sonhos de tantos garotos e garotas. E a Copa do Mundo o torna mais democrático, até quem não gosta torce. Vizinhos se juntam para pintar seus rostos, pintar as ruas, armam churrasco na calçada da esquina para servir todo mundo. Camisetas azuis, verde e amarelas são vistas aos montes e durante o jogo o silêncio só é quebrado no momento do gol, que é quando explodem os gritos, vuvuzelas, fogos de artifício. Não interessa qual o time do coração de cada um, durante a Copa são todos Brasil. Infelizmente não foi desta vez, o Brasil caiu nas quartas de finais e a chance do hexa ficou para 2022. Mas durante seus cinco jogos o DiCampana Foto Coletivo esteve presente e registrou alguns momentos de alegria e união que o futebol também pode nos proporcionar“. DiCampana Foto Coletivo

O DiCampana Foto Coletivo nasceu em 2016 com a junção de fotógrafos que registram há anos o cotidiano da periferia de São Paulo. Cada um no seu estilo, cada qual na sua particularidade e peculiaridade, o que compõe o olhar fotográfico do coletivo: a junção de quatro pontos de vistas periféricos diferentes, mas na mesma perspectiva: a Favela; a Periferia; a Quebrada! O DiCampana surge para contribuir com a produção fotográfica sobre o cotidiano das centenas de periferias e favelas espalhadas pelo mundo.


O coletivo é composto por “Gsé Silva” que trabalha com a escrita, a fotografia e o cinema. Seu curta “Juventude é Revolução” de 2015 foi selecionado para as mostras de cinema A Ponte, Mostra de Cinema Periférico e Festival Imagem-Movimento, este último em Macapá com curadoria AFROFLIX, onde foi selecionado também o seu micro-curta “Ser Inata” de 2016. Em 2015 dirigiu e produziu o curta “Domingo” com texto do poeta Ni Brisant e co-dirigiu o video clipe “Menores Infratores” do rapper Dugueto Shabazz. Em 2016 ganhou troféu do Festival do Minuto com o vídeo “Inconsulto”, ano em que foi selecionado para a exposição fotográfica “Monogaleria” do Sesc Campo Limpo e da exposição “Por Ser Menina” da ong Plan International, no Matilha Cultural, em São Paulo. Entre março e junho de 2017 dirigiu o documentário “Memórias do Bairro – Bairros do Capão Redondo”, resultado de um curso de audiovisual que ministra na Fábrica de Cultura do Capão Redondo.

José Cícero da Silva é fotógrafo e Videomaker desde 2013. Começou atuando em veículo de comunicação independente na periferia de São Paulo. Cobriu enchentes, crise hídrica; atividades socioculturais de coletivos que têm as suas atividades voltadas para direitos humanos. Também tem experiência em cobertura fotográfica em manifestações. Atuou no site da revista Carta Capital por um ano, fez matérias para o site da Rede Brasil Atual e atualmente está na Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo.

Léu Britto é jornalista de formação e fotógrafo autodidata. Já atuou em diversos veículos de comunicação como Folha de S.Paulo, Blog Mural, Rede Brasil Atual, Agência de Jornalismo das Periferias Mural; ONGs e Instituições da como Agência Solano Trindade, Banco Comunitário União Sampaio e União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências.


Weslley Tadeu, designer gráfico, fotógrafo e filmmaker. Teve início no mundo do audiovisual em 2010 em um curso de fotografia numa ONG próxima de casa, no ano de 2013 pelo Instituto Criar começou a formação em computação gráfica, logo em seguida participou de um projeto Clipe Quebrada patrocinado pelo VAI em 2015 assim nascendo a Lente suja uma mini produtora independente com o foco na fotografia e filmagem.

DiCampana Foto Coletivo

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