Ser macho.
Ser macho é chorar escondido no escuro, debaixo do convés de um navio à deriva num oceano revolto, com ondas gigantes castigando seu casco. Ser macho é ter a demonstração de afeto soterrada pelo fantasma da homossexualidade, permitindo que brote apenas quando bêbado, ou quando de raízes tortas cresçam galhos frágeis de cumplicidade secreta com os demais machos também soterrados. Ser macho é o falar reto e duro, incapaz da dúvida. É ser um pau rijo constante ou abrir mão de ser homem. Pois é esta sua identidade, é isto que te qualifica e balisa suas ações, emoções e pensamentos.
Estas coisas nos são ensinadas nas casas, ruas, escolas, em vivências diárias e incorporadas à gente de maneira muito mais profunda do que imaginamos. Vai pouco a pouco moldando nossa alma, como uma caixa que aos poucos diminui suas paredes até que tomemos sua forma e não mais a nossa.
Sentimos o quanto a caixa nos aperta, mas para sair dela é difícil. Tem uma idade em que percebemos que suas paredes enfraqueceram, e um pequeno empurrão pode desmontá-la, mas já não conseguimos sair de seu molde. Até que suas paredes ruem de fracas e ficamos perdidos; como se anda sem ser na caixa? Como se fala? Como se transa?
A desconstrução não funciona se for feita de maneira racional, é preciso olhar pra dentro, adentrar em si, tatear o desconhecido e procurar desatar os nós. Sair debaixo de toda esta terra.
Ninguém consegue fazer isso sozinho, são necessárias ferramentas. Todas que lhe façam sentido. Terapias, vivências, conversas, experiências. Tudo que é depositado de maneira profunda em você, e te mostra caminhos novos a se seguir. Caminhos que com o tempo não serão mais novos, mas sim corriqueiros, e os antigos aos poucos desaparecerão.
Recentemente, entrei em contato com uma ferramenta poderosa. Um curso de imersão tântrica. Nele descobri através do meu corpo um monte de respostas que sentia estarem lá, mas que de alguma forma estavam fora do meu alcance. Descobri o potencial de prazer que meu corpo inteiro pode sentir, mesmo sem o pau duro. E o pau, quando duro, já não se distingue do resto do corpo. Vivi um respeito e cuidado incrível à parceira, e da parceira a mim, como a base fundamental de atuação da técnica. O presente na massagem é dado por quem a recebe, e não por quem a pratica. Porque a exposição de quem a recebe é delicada e bonita como uma flor que desabrocha na sua frente, e requer um bocado de coragem se expor desta maneira ao outro. Vivi por um final de semana inteiro uma relação entre homem e mulher com um cuidado e respeito mútuo muito profundo e verdadeiro através do sexo. Descobri um monte de nuances da sexualidade feminina e como lidar com ela, e descobri em mim uma masculinidade muito mais sutil, delicada, profunda, carinhosa, cuidadosa e incrivelmente intensa aflorar do fundo de meu ser. O resultado se sente na pele por dias, e reestrutura nossa alma, para longe do que a caixa nos reduzia.
Que presente. Escrevo para que os que se sintam minimamente dentro desta caixa possam talvez ganhar um pouco de coragem para achar ferramentas que te sirvam pra sair dela e andar livre. É lindo. É um caminho comprido, mal definido e incerto, mas é lindo.
E aos poucos do macho surge o homem.