No próximo sia 08 de março o CCBB receberá a cantora Ná Ozzetti. Esse show faz parte do projeto “Luz, Câmera e Close: uma homenagem a Fernando Faro”, que também contou com apresentações de Toquinho, João Donato, Leci Brandão, dentre outros artistas.
Mas quem foi mesmo Fernando Faro? Paula Gabriel foi convidada pelo Infame a escrever sobre essa grande figura, que poucos conhecem, mas que esteve sempre por trás das câmeras no Programa Ensaio (exibido por anos na TV Tupi e, posteriormente, na TV Cultura) e fez toda a diferença no cenário da MPB que conhecemos hoje. Você pode conferir o resultado aqui:
Quanto vale o legado cultural de um país? Muito. Tudo. Vale aquilo que as futuras gerações vão herdar de melhor. Vale toda a sua história, toda a sua memória. Quanto vale o legado do melhor da música brasileira?
Fernando Faro soube disso intuitivamente. E fez da sua vida um imenso colher de registros, sem os quais talvez nunca pudéssemos conhecer os maiores artistas do país. Conhecer pelo lado B, por um detalhe do sorriso, pelo mexer dos dedos da mão, os tiques, um flagra de emoção ou confissões que só um papo muito íntimo poderia revelar. Usou de uma intimidade documental para criar um confessionário de artistas sobre sua arte, parcerias, medos, emoções e ousadias, tudo facilitado por uma honestidade de boteco.
O programa ‘Ensaio’ gerou um registro biográfico dos mais valiosos. Foi por essa ousadia que Faro deixou a sua marca. Como um entrevistador oculto, do ponto de vista da audiência, sua contribuição foi inovadora: misturava show e entrevista, de modo que ele próprio nunca aparecia, nem sua voz. Isso fazia os telespectadores se sentirem dentro da cena, como se fossem eles os participantes daquela prosa. As tomadas de câmera muito próximas, quase invasivas, captavam sutilezas que a televisão nunca tinha visto. E uma lente que invade o campo de segurança de uma pessoa consegue extrair dali uma verdade raramente conseguida em programas de entrevista.
E como poderia ser diferente? Como teria sido possível fazer música daquela qualidade no Brasil sem informalidade, amigos, prosa, madrugadas adentro, cigarros acesos, sem o frescor das noites de verão ou a boemia daquelas cidades? Sem a confiança cega nos parceiros que nunca te entregariam e que, junto com você, se sabiam alvo de censura, de repressão e, ao mesmo tempo, voz de resistência de uma cultura? Faro conseguiu levar esses estímulos para dentro do estúdio e deixá-los todos tão à vontade que nós pudemos assistir a performances dignas de saraus em casa de Vinícius de Moraes, se é que vocês entendem a preciosidade dessa analogia.
“A informação quem dá é o entrevistado. O resto é ruído”. Assim, despiu-se de qualquer excesso e revelou almas, mais do que personalidades, música ou suas histórias. Que vida meus amigos, que vida…
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Mais informações sobre o evento:
Este show será antecedido pelo debate “Fernando Faro e a trajetória do Rádio & TV no Brasil”. Quem irá conduzir a conversa será o curador do projeto Paulo Bastos, da PBO Entretenimento e os participantes serão a radialista Patricia Palumbo e a diretora Lillian Aidar.
Venda na bilheteria do CCBB e na internet pelo site Eventim.