A cada dia que passa, penso mais na velhice. Isso não significa que eu tenha espirito de velha, pelo contrário. São reflexões, em torno de ter uma velhice com melhor qualidade de vida, com amparo e dignidade, que vieram à tona depois de viver um período em Nova York.
Observar os idosos nova-iorquinos na ativa me impactou. Andam pelas ruas em outro tempo: mais lentos, só que atentos. Muitos se utilizam de andadores em forma de carrinho de feira, porque assim unem o útil ao agradável: facilitam a locomoção e ainda podem colocar suas bolsas e compras no mesmo carrinho. Eu nunca tinha visto recurso similar no Brasil.
Este “carrinho de feira” para locomoção estimula a independência dos idosos. Em muitas cidades americanas, nas quais a infraestrutura e o acolhimento de pessoas são metas fundamentais e coligadas, sua presença faz ainda mais sentido. O andador convive bem com as calçadas estruturadas, sem buracos, as guias rebaixadas etc. Um cenário de favorecimento aos caminhantes que infelizmente não condiz com a realidade das grandes cidades brasileiras.
Outra situação chamativa em Nova York é que muitos idosos na faixa dos 60 a 65 anos são admitidos para trabalhar como “guardião dos pedestres”, nos cruzamentos mais movimentados dos bairros, principalmente próximos de escolas, em horário de pico. Além de exibirem aos motoristas como se comportar com respeito, a função de “guardiões dos pedestres” movimenta as sinapses dos idosos, reintegrando-os à vida. Isso os incentiva a sair de casa para trabalhar em prol da sociedade e, por efeito contínuo, acelera o processo de conscientização e respeito dos motoristas em relação aos pedestres.
Além de nos estabelecermos em um lugar que favoreça a qualidade de vida, o que mais desejamos em nossa velhice? Os mais racionais constatariam: pretendo construir um plano de previdência privada para utilizá-la na hora certa, garantindo também uma boa aposentadoria para manter o padrão de vida conquistado.
Confesso a importância de se preocupar em ter uma reserva econômica. Até porque a pessoa ralou a vida inteira, aturou as broncas dos chefes mais malas, engoliu muito sapo, para poder se aposentar com dignidade. Contudo, não é este o foco.
O mais importante em alcançar na velhice é o estágio de sabedoria pleno, como ao ter tido a oportunidade de construir relações afetivas, como um grupo de amigas que possa dividir as experiências da vida. Acho que o maior medo na velhice é estar (literalmente) só. Sem ter alguém ao lado para dividir as angústias e compartilhar a felicidade. É por isso que faz total sentido a colocação apresentada no filme “Na Natureza Selvagem” (2007, diretor: Sean Penn) quando o protagonista conclui que “a felicidade só é real quando compartilhada” e divaga acerca da importância das relações com outras pessoas após ter embarcado em uma viagem solitária com o propósito de isolar-se do mundo.
No caminho da vida vejo a necessidade da busca de um equilíbrio entre a mente e o corpo. Pode soar clichê essa colocação, mas é tão difícil alcançar o que ela expressa! Acredito que o passo número um é estabelecer prioridades: estar perto de pessoas que transbordem amor e que aproveitem a existência de forma intensa. Teria graça chegar à velhice sem contar com um amigo para poder dar risadas conosco das coisas mais banais? Teria graça viver sem experimentar histórias malucas de carnavais passados?
A velhice ideal não é só aquela na qual se chega bem-aposentado. Mas, sim, aquela na qual se alcança a plenitude consequente das boas vivências do caminhar. Pessoas têm dificuldade em aproveitar o processo de desenvolvimento de um sonho. É preciso aproveitar cada segundo, pois a velhice é o resultado de uma vida.
É na velhice que a árvore da vida está mais carregada de sabedoria, maturidade e experiência. É na velhice que a árvore da vida está com as raízes mais sólidas e firmes, podendo suportar os grandes vendavais do viver. Neste meu primeiro texto para o Infame, além de dividir o meu olhar sobre o tema por meio das palavras, apresento uma colagem de minha autoria. Essa será a praxe deste espaço. Tanto a paixão do escrever, quanto a das artes visuais, correm em minhas veias. É nessa sopa de letras regada a arte que encontrei a melhor forma de despertar os sentimentos alheios.