5h30 por dia. É o tempo que muita gente por aí, talvez até você mesmo, gasta, em média, no seu celular.
Segundo estatísticas britânicas, as pessoas estão verificando seus celulares 110 vezes por dia, e nas horas de pico (17:00 – 20:00) a todo momento. Se você gasta em média 3 minutos a cada olhadinha, bem, faça suas contas.
É tempo suficiente para assistir 2 filmes, fazer uma maratona de alguma série empolgante, ler dezenas de páginas de um bom livro, fazer horas de atividade física e meditação ou quase ter uma boa noite de sono, algo que tanta gente reclama estar faltando em suas vidas. Só para citar algumas possibilidades.
Não duvido de necessidades legítimas e nem coloco em cheque a praticidade dos smartphones; eles realmente são foda. Mas está um pouco exagerado, não? O fato é que, muito rapidamente, criamos o hábito de ficar conferindo nossas redes sociais a todo instante.
O engraçado é que muitas vezes não há estímulo, o safado não toca, não vibra. E ainda assim, é aquilo: celular na mão, desbloqueio e vou de um app a outro, dou aquela olhada nos emails, aí penso: “mas péra, eu fiz isso há 15 minutos.”
Por que eu fiz de novo? Por que, na realidade, todos à minha volta faziam isso? Por alguma razão era importante dar mais uma conferida no celular. O que estamos buscando?
A resposta me pareceu simples, até. Na palma de nossas mãos acontece uma profusão de posts e mensagens nas quais encontramos distração sem fim, além é claro, da facilidade de interagir com as pessoas de nossas redes quase que instantaneamente. Afinal, somos seres sociáveis, o que queremos mesmo é interagir, trocar, pertencer. Argumentos até que positivos, mas o resultado nem sempre.
Se formos analisar a qualidade e relevância dessas informações, logo percebemos que a grande maioria é inútil e descartável. Por quê é importante ver a foto do lindo prato de almoço daquela colega da época do 2º grau com quem eu não falo há muitos anos? Começa, então, a não fazer sentido.
Alguns estudos já indicam que o acesso contínuo às redes sociais afeta diretamente o nosso estado de humor. Entre as centenas de posts em nossas timelines, sem nem perceber, experimentamos emoções como alegria, inveja, surpresa, raiva, medo, entre outras. Observe-se e surpreenda-se!
No geral, essas experiências são desnecessárias. A manifestação dessas emoções acontece sobre fatos que dizem respeito a outras realidades que não as nossas, como o prato de comida da minha colega. No entanto, o desgaste emocional é real, e aí o estrago já está feito. Consciente ou não, você viveu essas emoções, você absorveu essas informações e quanto mais informação para processar, mais trabalho para nossa mente. E quanto mais trabalho para a mente, mais estresse.
Eu venho observando esse comportamento desde meados de 2013, o acesso aos smartphones ainda era mais restrito. Já via cenas interessantes com as pessoas completamente distraídas, com o corpo meio que debruçado sobre a tela. Enquanto fotografava, assistia as primeiras trombadas por andar e digitar ao mesmo tempo. Eu mesmo protagonizei essas cenas e tudo aquilo me parecia muito esquisito.
Desde então, comecei a fotografar algumas dessas cenas, despretensiosamente. Aquilo foi ficando interessante, várias vezes eu me aproximava das pessoas para fotografá-las e não havia reação. Eu não precisava ser rápido, interagir, nem mesmo disfarçar. Normalmente, as pessoas não ficam indiferentes quando são fotografadas. Eu estava ali, eu e minha câmera, bem na frente da pessoa e ainda assim éramos completamente ignorados. Foi fascinante perceber como nos concentramos intensamente naquela pequena tela e ficamos completamente distraídos para o mundo à nossa volta.
Em um primeiro momento, este ensaio tornou-se uma forma de autocrítica. Cada fotografia que eu fazia era, de alguma maneira, uma cena da minha própria vida. E nesse momento tomei consciência do quão ridículo estava sendo esse comportamento. Não era apenas mais um hábito, havia se tornado um vício.
E aí vieram as mesas de bar e suas verdades. Por que na mesa ao lado os amigos tomam uma cerveja mas todos estão absortos no celular? Por que aquele casal na mesa do fundo está há 15 minutos, sem se falar, mas fazendo caras e bocas para suas telas?
Quem nunca se sentiu mal ao falar com alguém e esse alguém te ignora porque escolhe interagir com o celular? Eu já, diversas vezes. Ora, se enquanto seres sociais o que mais queremos é interagir, que tal começar com a pessoa que está sentada bem à sua frente? Ao apresentar o ensaio a amigos e discutir sobre o tema, comecei a entender o cerne da questão. Ficou claro que, em muitos desses momentos no celular, a busca é por atenção. Atenção por afeto, por conexão humana. Extrapolando a situação, vejo esse ato como uma tentativa de evitar os sofrimentos inerentes da existência humana e, portanto, como uma busca incessante por prazer.
Mas sinto informar que, caso você se reconheça nessas situações, a sua busca está acontecendo no lugar errado. Esse vazio existencial, a frustração com o seu emprego, aquele relacionamento que já começa a ficar sem sal ou mesmo seus descontentamento com a sociedade; nada disso se resolve passando horas no Facebook, muito pelo contrário.
Convido você a desligar as notificações do Facebook, silenciar seus grupos no Whatsapp e assim por diante. No início vem o temido vazio; que dura, em média, 5h30 por dia. O que fazer nesse vazio, fica a teu critério.
Para saber mais sobre Vínícius Moska:
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