Ela quer ritalina para o filho. Um psiquiatra foi contra, mas o outro está a favor.
O menino quer bola para brincar na rua, bicicleta para correr ladeira abaixo, patins para rodopiar no playground do prédio.
O apartamento é grande, mas foi milimetricamente planejado pela decoradora. E o menino? É agitado e inventou de desenhar na parede da sala. Foi lá, bem no cantinho! Depois, apagou o desenho com a borracha, mas ficou um borrão horroroso. Menino infernal!
Quando o psiquiatra foi contra a ritalina, ela comprou um iPad para o filho. O garoto se animou e, de tão animado, guardou o aparelho no congelador. A mulher esteve enfurecida:
– O que deu em você?
– Queria saber o que acontece com o tablet em baixíssimas temperaturas. É que eu vou a uma expedição ao Alasca no ano que vem!, respondeu o garoto.
Além de tudo, o filho inventa coisas impossíveis!
Dias depois, o iPad se foi. O menino o colocou na assadeira, sob as mais altas temperaturas do forno, pois queria verificar se o aparelho sobreviveria em caso de uma erupção vulcânica.
O filho tem déficit de atenção: foi o que disse o relatório psicológico. Tira notas baixas, é desatento, questiona tudo. Garoto que fala demais e, às vezes, tem tanto a falar… come sílabas, atropela as palavras. É que ele é hiperativo.
Ela quer ritalina para o filho porque não consegue assistir à novela em paz. Porque ela quer mandar mensagens no grupo de WhatsApp, mas é interrompida a todo instante. Porque o menino a enche de perguntas que ela não sabe responder.
Voltou ao psiquiatra que é a favor. Pegou a receita e correu à farmácia.
Graças a Deus o garoto sossegou!
Agora, ele tem notas razoáveis, assiste aos desenhos do canal a cabo e é ótimo nos games de guerra pelo iPad novo.
E a expedição ao Alasca? E os experimentos sobre os efeitos das altas temperaturas das erupções vulcânicas?
Outro menino – aquele que não toma ritalina – é quem vai nos contar dentro de alguns anos.