17 de março de 2015. O médico de Bo van Oudheusden a encara e enfim termina seu diagnóstico: você tem esclerose múltipla. “Minha vida desmoronou. A gente nunca imagina que isso vai acontecer conosco”.
Foram meses tentando recolocar-se nos eixos e seguir com sua rotina, até que cerca de 1 ano depois, em maio de 2016, Bo entrou em contato com uma experiência que deu sentido ao restante da sua vida: as Urban Explorations (UrbEx), ou Explorações Urbanas, em português. “Cada expedição é um desafio. E esses desafios me fizeram voltar a enxergar a beleza da vida”.
Em linhas gerais, essas explorações correspondem a expedições urbanas de pequenos grupos por lugares abandonados ou pouco frequentados, muitas vezes perigosos e de difícil acesso, como por exemplo edificações antigas, túneis, galerias, tetos de prédios, etc.
Em sua primeira expedição e na companhia de uma amiga, Bo visitou o Chateau Miranda, um castelo neogótico localizado na Bélgica. “Entrei ali e foi como um conto de fadas. Enorme. Fascinante. Voltei para casa com vontade de mostrar as fotos que tirei para todo mundo. Aí nasceu a ideia do projeto”. A partir daí, passou a postar essas fotos em uma página que iniciou no Facebook, chamada “Memories of Abandoned Places” (Memórias dos Lugares Abandonados”).
Apesar de não ser fotógrafa profissional, Bo diz-se fascinada por contar as histórias desses lugares por meio da fotografia. Perguntada sobre o nome do projeto, ela diz que sim, acredita que todo lugar tem sua própria memória, que passa a ser crível na medida em que alguém a documenta (pelas fotos, por exemplo). “Cada lugar tem uma energia diferente. Posso sentir. Eu acredito que existe muito mais nessa vida do que apenas nós. E isso vale para todos os lugares, não apenas àqueles abandonados”.
Entre as locações preferidas que já visitou, Bo destaca um hospital psiquiátrico e um forte. “O hospital me trouxe memórias da época em que trabalhei como enfermeira. Trabalhava com pacientes psiquiátricos também. Foi divertido caminhar pelos corredores e recordar tantas histórias de pessoas que já precisaram da minha ajuda. Quanto ao forte, nunca vou esquecer da sua escadaria. Fiquei ali parada e sem ar, só observando aquela imensidão que não terminava de subir até o nada”.
“É sempre uma experiência diferente. Às vezes é aterrorizante, assustador. Pode ser perigoso também, já que há a chance de encontrar traficantes de drogas ou moradores irregulares. Mas nunca passei por problema algum, então não me preocupo. Na realidade, temos mais medo de sermos pegos pelo proprietário ou pela polícia, mas isso também ainda não aconteceu comigo até hoje”, completa antes de soltar uma gargalhada.
“Nesses dois anos, tenho tentado de tudo. É relativamente fácil dizer que ainda dá para ser feliz, que ainda posso viver uma vida digna; na prática é que a coisa complica. Mas tenho conseguido e isso me dá mais força. Aprendi na pele que temos que aproveitar enquanto podemos. E se temos um problema, só nos resta tentar superá-lo, agir de forma positiva. Não é fácil fazer UrbEx com esclerose múltipla, já que muitas vezes precisamos escalar, subir em muros, coisas do tipo. A doença atrapalha o meu senso de equilíbrio e isso pode ser perigoso quando subimos um prédio ou uma torre. Tenho tomado muitos riscos desde o diagnóstico, sabendo que não poderei continuar por muito tempo. UrbEx me dá a sensação de que ainda estou por aqui. E isso me basta”.
Visite a fanpage do projeto aqui.