Tudo é RACISMO? Tudo é MACHISMO? Tudo é HOMOFOBIA? Tudo é TRANSFOBIA? Só posso falar pela parte que me toca, ou seja: racismo e machismo.
Em termos de Brasil, é muito complicado, sim! O Brasil, de fato, é um lugar extremamente racista e machista. Falo com o conhecimento de causa de quem já andou um pouquinho por outras paragens. Mas uma coisa eu percebo; o racismo é veneno tão letal que, se nós não nos cuidarmos, acabaremos morrendo do próprio veneno.
EXPLICO. A liberdade de ser, a individualidade, o nome próprio devem vir primeiro em qualquer esfera da vida. Não dá para ser “A/O NEGRO/A PROFISSIONAL”, levar a cor da pele e a etnia à frente da própria subjetividade, da própria existência. Por mais que a sociedade queira isso (e é isso que ela quer) é nessa armadilha que NÃO devemos cair.
O mesmo vale para a questão do feminismo e o SER MULHER. Eu, antes de tudo, sou Sabrina e, se caio nessa armadilha de virar “A MULHER”, “A NEGRA”, minha vida será um verdadeiro inferno. Por que? Porque se você mesmo veste a carapuça da racialização e do sexismo, você deixa de ser um indivíduo, você passa a ser massa de manobra seja para o ativismo, seja para a política, seja para os racistas, seja para os machistas, seja para as feministas…Você passará a enxergar o MAL em tudo e em todos, inclusive em coisas e objetos que não se movem. Você JAMAIS será LIVRE. E ser livre requer DESAPEGO. Desapego daquilo que alguns querem que você seja: alguém que só vê o mal em tudo e em todos, alguém incapaz de ver a realidade dos fatos, de ver os dois lados da mesma moeda, de ver os degradés, de entender que às vezes te olham por admiração e não porque todos no PLANETA TERRA INTEIRO são racistas, de entender que as vezes alguém não gosta de você, não por causa do seu gênero ou cor de pele, e sim porque NEM SEMPRE as afinidades são eletivas (desmistificando Goehte, aqui).
É preciso ter desapego, ainda, da obrigação imposta de ser ATIVISTA em tudo (se essa não for a sua meta, é claro), de falar o tempo todo sobre essas questões no seu trabalho, na sua vida social, na sua obra, na sua arte. E, se for o caso, falar disso TAMBÉM, mas sem levar o peso do mundo para o travesseiro.
É preciso se colocar ACIMA das coisas impostas a nós SEMPRE. De outra maneira, todo o projeto racista e misógino, que foi desenhado séculos atrás, terá, de fato, dado certo. É preciso olhar com COMPAIXÃO para a ESCÓRIA e os MEDÍOCRES e não sofrer por causa deles. É preciso ser LIVRE e SOBERANO acima de tudo. Ser LIVRE e FELIZ é o maior ato político e revolucionário em uma sociedade racista e machista. O contrário disso é cair na armadilha imposta pelo sistema.