O acidente de trem perto da Filadélfia matou dezenas de passageiros numa tarde de inverno rigoroso. As imagens dos vagões da Amtrack retorcidos fora dos trilhos, bancos arrebentados, policiais e bombeiros transitando, foram manchetes nos principais jornais americanos. Era o retrato óbvio da tragédia.
O fotógrafo de um tabloide, no entanto, virou a câmera para o outro lado. No estacionamento de uma das estações por onde o trem passou, ele viu os carros que sobraram. Um pátio vazio exceto por alguns poucos carros cobertos de neve. Gente que deixava o carro ali diariamente e seguia até a cidade trabalhar. E registrou a tristeza daqueles que não voltariam para casa naquela noite. A foto, estampada num único jornal, chamou a atenção não só pela emoção que provocava, mas pelo ângulo diferente encontrado na mesma situação. Prêmio para o fotógrafo e para o editor que, corajoso, fez a escolha menos óbvia e mais tocante.
Essa é a grande busca do artista, do jornalista, do poeta, do fotógrafo, do escritor ou de quem, distante de qualquer dessas profissões, não encara a vida como lugar comum, ao contrário, sabe que uma árvore é sempre mais do que uma árvore, ainda que seja essencialmente uma árvore. Toda árvore conta uma história. Ouvir, ler, perceber essa história é um exercício de sensibilidade e persistência. É estar sempre disponível para um amor. Contar a história, depois, é seduzir o outro e exige talento para virar amor correspondido. Esse é um espaço para as boas histórias. Para os amores correspondidos. Prêmio para quem tem olhos, ouvidos e coração.