Todos os noticiários aguardam os desdobramentos das eleições de 2018. Copa do Mundo no mesmo ano não é novidade, e não é o futebol que fará o brasileiro esquecer as urnas. A polarização política torna ainda mais complexa a escolha do ocupante do cargo mais importante do País, que não apenas precisa se eleger, mas também se manter no poder. Quer seja de esquerda, ou de direita, a instabilidade política traz danos à democracia e quem sofre as consequências em um país desigual são os mais pobres.
O discurso maniqueísta não contribui para melhorias nacionais. A defesa de um lado como oposição ao outro não gera construção proativa de soluções, mas apenas manifestação de ódio. Após a saída de Dilma Rousseff da presidência, por meio da decisão de um Congresso contrário à sua permanência e uma população dividida, surge o fenômeno anti-PT (Partido dos Trabalhadores) e anti-antipetista, como defendido pela tese do professor da Universidade de São Paulo, Pablo Ortellado, que analisou o perfil das redes sociais para identificar a divisão da sociedade. Golpe ou impeachment, o discurso de ódio divide e paralisa o Brasil.
O cenário polarizado ao mesmo tempo que amplia o número de pessoas envolvidas na discussão política, também diminui a qualidade do conteúdo e do pensamento, porque os brasileiros agem de maneira a contrariar o outro e não de criar argumentos e teoria próprios. O julgamento do ex-presidente Luís Inácio Lula na Silva mostra claramente como a sociedade deixou de construir ideias para cegamente defender um de dois lados como se fosse torcida furiosa e irracional de qualquer estádio do País. Fogos de artifícios foram soltos por uma elite que pouco tem a acrescentar, no momento que não faz o mesmo quando Aécio Neves ou Sérgio Cabral é condenado. Essa atitude mostra a polarização no entorno do Partido dos Trabalhadores.
Qual o símbolo que o PT carrega que causa tamanho ódio da direita? É curioso tentar descobrir o que tanto incomoda, já que ninguém se mostra tão interessado quando é o caso de bater panela em discurso de Temer, como simbolismo de não escutar ou de fechar-se ao diálogo. Não há estudos sobre o que psicologicamente aflige um quinhão da sociedade, que também não pode ser simplesmente dividida em estratos sociais, pois há parte da classe média conservadora fazendo uso do discurso do ódio.
O dia 24 de janeiro não foi o dia em que Lula foi condenado, mas o momento que a população brasileira mostrou as garras do ódio, da falta de diálogo e despolitização. O fato de existir uma pessoa pobre que virou presidente incomoda a elite e outros setores menos abastados que não conseguiram chegar lá por falta de oportunidade. Preso político, pobre e sem educação, de alguma maneira, é proibido de ir tão longe dentro do patriarcalismo brasileiro, e surge no imaginário o triunfo de encontrar o erro justificado pela justiça. E faz-se a festa.
Não se trata de defender a inocência do presidente Lula ou do PT, mas de trazer à discussão o motivo que desperta o ódio das panelas que silenciam a voz do outro de maneira imatura, e dos fogos que comemoram a prisão de apenas um político entre tantos condenados nos últimos meses.
A Copa do Mundo começa em julho, mas a partida teve início agora.