Infame

O Trabalho Dignifica o Homem?

"A palavra trabalho vem do latim “tripalium”, termo formado pela junção dos elementos tri, que significa “três”, e “palum”, que quer dizer “madeira”. Tripalium era o nome de um instrumento de tortura constituído de três estacas de madeira bastante afiadas e que era comum em tempos remotos na região europeia".

Por Sabrina Fidalgo |  14 de agosto de 2017

Quem inventou o trabalho? Vamos lá, quem INVENTOU? Quem inventou esse conceito de que o “trabalho dignifica o homem”?

A palavra trabalho vem do latim “tripalium”, termo formado pela junção dos elementos tri, que significa “três”, e “palum”, que quer dizer “madeira”. Tripalium era o nome de um instrumento de tortura constituído de três estacas de madeira bastante afiadas e que era comum em tempos remotos na região europeia.

Pausa dramática. ARBEIT MACHT FREI (“o trabalho liberta”) eram os cínicos dizeres da plaquinha pendurada no topo dos tenebrosos portões de todos os campos de concentração e extermínio da Alemanha Nazista e era essa a mensagem de boas vindas transmitida aos judeus, ciganos, gays e comunistas presos pela SS que adentravam para sempre os portais do inferno.

O “trabalho”, esse conceito pós-escravidão, pós-industrialização, é apenas um neologismo para a padronização, mediocrização, robotização, alienação, neo-escravidão e controle de mentes, corpos e espíritos em massa, somente para a manutenção de poderes e de privilégios para poucos, é claro. É papo de domínio, de poder. O “trabalho” não é livre. Não é liberto quem entra aos vinte e poucos anos em uma empresa e sai de lá aos sessenta e tantos sugado, triturado e vilipendiado. Imagina bater ponto todos os dias, nos mesmos horários, fazendo a mesma coisa, décadas a fio, sem direito a assinatura da obra, sem direito a participação em lucros, doando o melhor do seu cérebro, da sua juventude, da sua energia vital, de seu elã, de seu sono interrompido, da sua vontade de mandar tudo e todos se foderem, da sua criatividade e ter, em troca, a substituição compulsória por “robôs” mais jovens e mais baratos e, de lambuja, uma “aposentadoria” para, dali por diante, gozar a vida?

Eu quero é GOZAR A VIDA AGORA, o tempo todo. Eu quero assinar eu mesma todos os meus projetos, sim, e quero usar toda a minha criatividade de forma muito bem endereçada. Eu não quero tirar férias porque estou velha e não presto para mais nada. Alguns medíocres acreditam que estão são e salvos, porque tem um “trabalho”. Mas é sabido e notório que esse conceito é ultrapassado e é necessário a partir de ONTEM uma reinvenção da nova ordem, que, de certa forma, já passa a ganhar contornos de realidade em outros lugares do mundo, como em Palo Alto e cia, por exemplo.

Hoje basta um celular e um Wi-Fi e você estará livre das amarras da neo-escravidão. Mas e o que dizer daqueles que não conhecem o caminho? E aqueles que já estão no final da curva e não conseguem sequer compreender um outro sistema livre? Esses terão que vender suas almas, suas mentes e seus corpos, só mais um bocadinho, sem saber se enfartarão em duas horas ou em 3 anos, tudo para alimentar alguns obscuros planos de manutenção do status quo de uma elite delirante, que ri da sua cara enquanto tomam soda e whisky do alto de suas coberturas no Leblon.

Sabrina Fidalgo

Sabrina Fidalgo

Sabrina é cineasta no Rio de Janeiro, já tendo escrito, dirigido, produzido e atuado em diversos filmes e videoclipes, premiados e exibidos nacional e internacionalmente. Estudou cinema na “Escola de TV e Cinema de Munique”, na Alemanha, e especializou-se em roteiro na “Universidad de Córdoba”, na Espanha. Comanda, desde 2009, a produtora de cinema independente Fidalgo Produções.